A Lenda do Guardião das Gêmeas do Iguaçu

Contam os mais antigos que, quando a guerra do Contestado terminava e as terras começavam a ser divididas entre Paraná e Santa Catarina, uma figura misteriosa começou a aparecer nas margens do Rio Iguaçu, um velho de longas barbas brancas, olhos brilhantes como brasa, e um bastão de madeira de imbuia entalhado com símbolos antigos. Ninguém sabia de onde vinha. Uns diziam que era um espírito de soldado da Guerra do Paraguai. Outros afirmavam ser o próprio João Maria, que havia retornado para zelar pelas duas cidades nascidas do mesmo ventre: Porto União e União da Vitória.

O velho foi visto pela primeira vez numa noite de neblina, quando o rio parecia sussurrar em tupi-guarani e a linha férrea tremia sem que passasse trem. Ele caminhava lentamente pelo trecho onde hoje está a ponte férrea, e sempre que desaparecia, um fogo-fátuo surgia sobre as águas, girando como se guardasse um segredo submerso.

Segundo a lenda, o velho é o Guardião das Gêmeas do Iguaçu, um ser encantado, preso entre os mundos, que surge sempre que o equilíbrio entre as cidades irmãs está ameaçado — seja por disputas políticas, destruição ambiental ou pela perda da memória de seus antepassados. Ele aparece à meia-noite, quando o sino invisível da antiga igrejinha do Morro da Cruz toca sozinho, ecoando pelas duas cidades.

Diz-se que sob as águas do Rio Iguaçu, há uma ponte invisível, feita de trilhos encantados, que liga os corações dos moradores de Porto União e União da Vitória. Essa ponte só pode ser vista por quem estiver com o espírito limpo e o coração voltado à paz.

Muitos tentaram filmar o velho ou captar a luz que o acompanha, mas nenhum registro eletrônico sobrevive. Câmeras quebram, gravações apagam, como se o tempo se recusasse a aprisionar o mistério.

Nas noites de 5 de setembro — data da emancipação de Porto União — moradores contam que sons de passos sobre a ponte ferroviária ecoam sem que ninguém a atravesse. E que uma voz rouca sussurra:

“Gêmeas do Iguaçu… enquanto forem irmãs, serão eternas.”

Lendas relacionadas