Entre as pedras silenciosas e a vegetação cerrada da costa de Bombinhas, dois abrigos naturais guardam um mistério que poucos ousam explorar. Um deles repousa à sombra do morro de Quatro Ilhas, conhecido entre os antigos como a “toca dos ventos”. O outro, mais escondido, encontra-se entre as falésias da Praia da Sepultura — um nome que, por si só, já carrega presságios sombrios.
Diz a tradição oral que, ao final da Guerra do Paraguai, um cabo do exército imperial, atormentado pelos horrores que presenciou, desertou. Fugiu pelos sertões, atravessou matas fechadas e chegou, dias depois, ao litoral de Santa Catarina. Cansado, faminto e com os olhos queimando pelas visões de guerra, encontrou refúgio nas cavernas naturais entre as pedras costeiras.
Esse homem, que passou a ser chamado apenas de “Cabo da Sepultura”, sobreviveu por anos escondido ali. Os pescadores da região juravam vê-lo apenas de relance, descendo do morro nas madrugadas para buscar água e frutos silvestres, com uma longa capa escura e um olhar perdido, como quem conversa com os fantasmas de um campo de batalha.
Mas havia mais: nas noites de lua nova, moradores ouviam barulhos metálicos vindo das tocas — como se lanças, baionetas ou espadas fantasmas tilintassem entre os ventos que entravam pelas fendas. Alguns diziam que o cabo nunca estava realmente sozinho. Ele teria sido seguido por espíritos de companheiros mortos na guerra. Outros afirmavam que ele fez um pacto com entidades antigas do mar, entregando sua alma em troca de paz eterna nos abrigos que chamava de lar.
Com o tempo, ele desapareceu — ninguém sabe como, nem quando. Mas um velho diário foi encontrado em 1932 por um caçador, escondido dentro de uma caixa de madeira entre as rochas da Sepultura. Nele, o ex-soldado descrevia encontros com “sombras de guerra”, criaturas feitas de fumaça e lamento, que vinham à noite lhe cobrar promessas esquecidas.
Hoje, há quem diga que, nas noites silenciosas, é possível ouvir passos pesados sobre as pedras, e o som abafado de alguém falando sozinho entre as cavernas. O local é evitado por muitos pescadores — que ainda deixam oferendas de fumo e pinga nas pedras da entrada, para que o Cabo da Sepultura siga dormindo em paz.