Há muito tempo, quando Bombinhas ainda era uma vila isolada por mata fechada e trilhas de terra batida, não havia cemitério por perto. Os mortos da região precisavam ser levados a pé até o cemitério da Igreja Matriz de Porto Belo. Para isso, os carregadores seguiam por uma antiga trilha que cruzava o morro, hoje a divisa entre os dois municípios.
No topo do morro, havia uma pedra grande, plana e solitária, que os carregadores usavam para descansar o peso dos caixões. Ali, faziam orações, tomavam fôlego e seguiam viagem. Com o tempo, aquela pedra passou a ser evitada durante a noite. Os moradores antigos juravam que ela carregava o peso das almas deixadas ali.
Diziam que, à meia-noite, era possível ouvir coisas estranhas naquele ponto da trilha: o piar grave e contínuo de uma coruja, o choro longínquo de uma criança, estalos como de latas sendo arrastadas, e, por vezes, um feixe de luz subia da pedra até as copas das árvores, como se alguém estivesse ascendendo dali para o céu — ou sendo puxado de volta.
Contam também que, certo dia, um jovem descrente resolveu passar por ali exatamente à meia-noite, desafiando os antigos. Quando chegou à pedra, sentiu um frio que atravessava os ossos e, por um instante, o silêncio ficou tão denso que o tempo pareceu parar. Sem aviso, um lamento agudo ecoou entre as árvores e o rapaz jurou ter visto, sobre a pedra, um caixão fechado cercado por sombras.
Desesperado, correu de volta, tropeçando na mata. Chegando em casa, nunca mais falou uma palavra sobre aquela noite. Desde então, ninguém mais ousou passar por ali depois do anoitecer.
Hoje, a pedra ainda está lá, coberta por musgo, esquecida pelos que não conhecem a lenda. Mas, em noites de lua cheia, quem escuta bem pode ainda ouvir o choro e o bater de latas, lembrando que a Pedra dos Defuntos carrega mais que cansaço… carrega histórias de almas que ainda não encontraram descanso.
