Muito antes da cidade de Porto União surgir como a conhecemos hoje, as águas do Rio Iguaçu guardavam um segredo sombrio e sagrado. Segundo os antigos tropeiros e colonos, no ponto onde se formava o antigo Vau, o trecho raso usado para cruzar o rio, vivia um espírito guardião: uma mulher envolta em véus brancos que caminhava sobre as águas nas madrugadas enevoadas.
Diz a lenda que durante os tempos de disputa entre portugueses e espanhóis, ainda no século XVIII, uma indígena da etnia Kaingang chamada Tepyra, que significa “nascida das águas”, foi capturada e prometida como oferenda às forças portuguesas. Ela conhecia os caminhos do rio e seus perigos, e temia que o domínio dos brancos destruísse as matas e os espíritos da floresta. Numa noite de lua cheia, Tepyra fugiu da prisão e mergulhou no Vau. Ali, diante do brilho da lua, invocou os ancestrais e desapareceu nas águas profundas, jurando que protegeria aquelas terras de qualquer usurpação injusta.
Com a chegada dos colonos e a divisão das cidades gêmeas após a Guerra do Contestado, surgiram relatos de aparições misteriosas no antigo porto. Soldados relataram ver uma mulher de cabelos longos e negros, segurando uma lança e com o corpo envolto por véus flutuantes, flutuando sobre o rio com o olhar penetrante e melancólico. Ela aparecia sempre que as fronteiras da cidade eram ameaçadas ou quando decisões políticas colocavam em risco a identidade do povo local.
Diz-se que durante as disputas do Contestado, a Guardiã apareceu para um grupo de sertanejos rebeldes próximo à linha férrea, advertindo-os de que a luta não era apenas por terra, mas pela alma do território. Desde então, em noites silenciosas, pescadores afirmam ouvir sussurros vindos do rio, e em algumas madrugadas, os mais atentos conseguem ver o reflexo de Tepyra nas águas turvas, vigiando, como se ainda aguardasse justiça.
Hoje, moradores antigos de Porto União e União da Vitória ainda acendem velas nas margens do Iguaçu, pedindo proteção à misteriosa Guardiã do Vau. Para muitos, ela é mais que lenda: é a alma da cidade, símbolo da resistência, do respeito à terra e do elo invisível que une os dois lados do rio.