Diz a tradição que, após as novenas realizadas na singela igrejinha do morro do cemitério, os fiéis, ao descerem em procissão sob o véu da noite, sentiam algo inexplicável. Bastava um deles olhar para trás e lá estava ela — uma luz tênue e trêmula brilhando sozinha na pequena janelinha da capela. Não era vela, não era lampião. Era um brilho frio, quase azulado, que parecia flutuar do altar até o vitral da janela.
Com o tempo, a história se espalhou e ninguém mais ousava olhar para trás após as rezas. Havia quem dissesse que a luz aparecia somente para aqueles com o coração impuro, como uma advertência divina. Outros juravam que era a alma de um antigo padre que havia morrido em pecado e ali permanecia em penitência.
Mas a versão mais contada pelos antigos era a do tesouro escondido. Diziam que um fidalgo, perseguido durante a Revolução Farroupilha, teria enterrado ali, sob o altar da capela, um baú com ouro, pratarias e documentos sagrados. A luz seria o espírito do próprio guardião do tesouro, que iluminava o local apenas após as orações, como se esperasse alguém digno de encontrá-lo. Muitos tentaram cavar à noite, movidos pela ganância, mas misteriosamente adoeceram ou desapareceram sem deixar rastros.
A verdade é que a igrejinha continua de pé, silenciosa, envolta pela vegetação e pelos túmulos antigos. E, mesmo com o tempo passando, há quem ainda evite passar por ali após o pôr do sol. Afinal, ninguém nunca soube — ou jamais teve coragem de confirmar — o que realmente brilha naquela janelinha.