No início do século XX, Porto União fervilhava com os sons dos trilhos e o apito das locomotivas. Era o tempo em que o Ferroviário Sport Club reunia multidões em seu estádio, localizado no coração da cidade. No interior do estádio, havia uma pequena capela, singela, onde muitos casais simples sonhavam em selar suas uniões. Entre eles, estava Helena, uma jovem de beleza encantadora e alma delicada.
Helena havia se apaixonado perdidamente por Carlos, um jovem ferroviário. Ele era conhecido por sua simpatia e bravura nos trilhos, mas também por ser mulherengo — algo que Helena ignorava por completo, envolta no romantismo de seu amor.
O casamento foi marcado para um domingo de primavera, na pequena capela do estádio. Helena costurou o próprio vestido de noiva, branco, longo e com detalhes rendados, sonhando com uma vida ao lado de Carlos. Mas dias antes da cerimônia, ela recebeu uma carta anônima, alertando sobre uma traição. Em choque, confrontou algumas amigas, que acabaram confirmando: Carlos mantinha um caso com outra mulher em Mafra.
Devastada e envergonhada, Helena decidiu não dizer nada a ninguém. Na véspera do casamento, entrou sozinha na capela vazia e silenciosa do estádio, onde esperava, horas depois, declarar seus votos. Lá, presa no desespero e na humilhação, Helena usou o próprio véu para se enforcar no altar, sob a cruz da entrada. Foi encontrada na manhã seguinte por um zelador do clube.
A notícia abalou Porto União. A cerimônia virou luto. Carlos, envergonhado e tomado pela culpa, também se inforcou. A capela foi fechada e o estádio, embora continuasse sendo palco de jogos e comemorações, carregava desde então uma aura sombria.
Desde essa tragédia, dizem que nas noites frias no Ferroviário Sport Club, uma figura de noiva pode ser vista vagando pelas arquibancadas vazias ou dentro da antiga capela — hoje selada. Ela carrega o véu rasgado e um olhar vazio, como se ainda esperasse por um casamento que nunca aconteceu.
Outros juram vê-la sentada nas arquibancadas mais altas, com o vestido esvoaçando ao vento, fitando o campo silenciosamente.